Dez 10, 2021

ALUMNI.PT: ANA RITA ARAÚJO


Ana Rita Araújo, Alumna do ISEP em Engenharia Químicavenceu o Prémio Jovem Biofísico 2021, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Biofísica. Ana descobriu dois compostos extraídos da cortiça que podem ajudar no combate à doença de Alzheimer. Esta descoberta diária na ciência é aquilo que mais a fascina no seu trabalho enquanto investigadora no 3B’s Research Group: «Aprendi a valorizar muito os pequenos avanços para a humanidade, mas grandes para nós e para o nosso trabalho».


- Como surgiu o interesse pela Engenharia?


A minha avó paterna trabalhava na fábrica Confiança, em Braga, onde fazia sabonetes. De alguma forma, fui influenciada por o que ela fazia. Além do mais, era boa aluna a físico-química. O meu pai é serralheiro mecânico e sempre houve muitas engenhocas em casa... Acho que foi toda esta mistura que me levou para Engenharia Química, no ISEP.


- Porque escolheu estudar no ISEP?


O ISEP foi me apresentado como uma escola mais prática, com muita qualidade no ensino superior e foi o suficiente para me cativar.


- Voltava a escolher o mesmo curso? Que formação gostava de completar a Engenharia Química?


Se fosse hoje, acho que mantinha a Licenciatura em Engenharia Química no ISEP, mas não faria o mestrado. Devia ter procurado complementar a minha formação numa outra área. Hoje em dia, como trabalho com ciências farmacêuticas e bioquímica, sinto que devia ter feito o meu mestrado dentro dessas áreas.


- Do que mais sente saudades do tempo de estudante?


Sinto saudades de pequenos momentos: de estudar em grupo nas salas 24h... Era mais companheirismo do que estudo. Sinto falta do burburim dos corredores antes e depois dos exames. Das tardes passadas no bar a rir com colegas... muita coisa.


 - Foi, recentemente, distinguida com o Prémio Jovem Biofísico 2021. O que significa esta distinção?


Todos os anos a Sociedade Portuguesa de Biofísica atribui o Prémio Jovem Biofísico. Neste ano de 2021, foi-me atribuído a mim e, evidentemente, deixa-me muito contente. Deixa-me particularmente feliz o reconhecimento que o trabalho que faço todos os dias no laboratório é útil para a sociedade. Sinto-me motivada para continuar o desenvolvimento de estratégias futuras para o tratamento da doença de Alzheimer, que é uma patologia devastadora, quer pela neurodegeneração que provoca na pessoa diretamente afetada, como também no impacto psicológico que tem nas pessoas que a rodeiam.


- Que outro projeto ou investigação gostaria de destacar?


Durante o doutoramento no 3B’s Research Group, temos de desenvolver cinco trabalhos diferentes, que originem cinco publicações independentes. Durante esse período, estive envolvida na síntese de dendrimeros inspirados na vescalagina/castalagina para aplicação em péptidos amiloidogénicos. Este trabalho, desenvolvido na Universidade de Santiago de Compostela (CIQUS), foi muito gratificante, pois, durante a licenciatura, gostava muito de química orgânica, e lá no CIQUS voltei a ter esse contacto e a reviver conhecimentos, numa vertente mais prática, e foi muito compensador.


- Que conhecimentos e experiências levou do ISEP para o mundo profissional?


Levei mais do que se calhar alguma vez imaginei. Aprendi a ser disciplinada e focada no que faço. A carga de exames que na altura parecia impossível, criou essa disciplina de me organizar e ter o estudo calendarizado. As disciplinas de laboratório, que foram muitas, tornaram-se determinantes. Aprendi tudo que era preciso nesse âmbito, a base de tudo, e isso hoje em dia faz muita diferença. E, claro, as vivências, partilha de experiência ensinaram-me muitas coisas.


- O que é que a motiva no seu trabalho? E o que mais valoriza?


Eu gosto da descoberta diária. É, provavelmente, o que me fascina mais, o aprender coisas. O que desmotiva são sucessivos falhanços que existem no laboratório no dia-a-dia: ou não funciona, ou não é o expectável, ou o equipamento parou e a experiência vai para o lixo, etc... Acaba por ser muito desafiante aprender a gerir a frustração nesta área. No entanto, torna-nos muito resilientes ao desgaste e, com isso, aprendi a valorizar muito os avanços pequenos para a humanidade, mas grandes para nós e para o nosso trabalho.


- Uma curiosidade sobre si.


Danço no Grupo Folclórico da Universidade do Minho. Dancei contemporâneo, jazz e ballet, toco braguesa... Sou muito irrequieta!


- Que palavra a melhor descreve?


Numa só palavra é difícil, não me consigo decidir. Sou muito curiosa e despachada... e indecisa, também!


- Se pudesse mudar alguma coisa no mundo, o que seria?


O Sérgio Godinho tem uma música onde eu revejo os meus desejos: A paz, o pão, habitaçãoSaúde, educaçãoSó há liberdade a sério quando houverLiberdade de mudar e decidirQuando pertencer ao povo o que o povo produzir.


- Se tivesse um livre passe para fazer o que quisesse…?


Ia dar a volta ao mundo como o Phileas Fogg e, nos dias de hoje, os 80 dias chegariam sem grandes correrias.


- Que mensagem gostava de deixar aos futuros engenheiros do ISEP?


Que aproveitem bem a estadia no ISEP. Aprendam, absorvam tudo que conseguirem, criem estruturas e disciplina. E claro, não só o lado pedagógico, mas o humano, que muitas vezes é esse que nos faz evoluir em todos os campos. Aproveitem os amigos e tudo que o ambiente académico proporciona. Eu aproveitei e adorei os anos que estive no ISEP.